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sábado, 11 de junho de 2016

Casa de Luísa em 07 atos

Dona Luiza, a matriarca sentada ao pé da escada da sua casa nova.
Ato 01
A casa de D. Luísa França, em Santo Antonio dos Lopes, cidade do Médio Mearim maranhense, cheia com a visita dos filhos, oito ao todo, netos oficiais são dez, a rotina ao amanhecer se altera e mais ainda se a visita inclui seu primogênito, o Júlio César, para ele invariavelmente tem preparada uma galinha caipira ao molho, os outros filhos não se importam com isso, uma bobagem, mas se aproveitam da situação, reclama Júlio, pois quando se senta a mesa para comer a penosa só encontra os pés, as asas e o pescoço e olhe lá se demorar nem isto. Rotineiramente a D. Luísa acorda às sete horas, mas com esta visita especial, levanta as seis da matina, para preparar as guloseimas.
Irmãos: Jadiel, Walter, Júlio César, Sebastião, Richard e Wagner.

Frnci, Walter, Júlio Filho, Neide, Júlio César e Bati França (pai da turma).

Yuri, Denize, D. Luiza, Jadiel e Richard.
Ato 02
Assim, os trabalhos na cozinha começam mais cedo, os quitutes que dali saem tem características especiais, o café é reforçado, bolo a lá Luísa, cuscuz, ovos caipira, leite in natura da fazenda Pau Ferrado, tirado de madrugada  pelo Raimundo Zoada, também apelidado de Ajeita, cognome que ganhou de um ex-vizinho, o Sousão, irmão de D. Luísa, já falecido, Zoada ou Ajeita, tanto faz, nisto aceita de bom grado, não se altera, a não ser que a conversa estique e especule sobre as apostas dos jogos de bilhar ou sinuca como quiserem chamar, a sua cachaça predileta. Nisso não aceita opinião, por pouco puxa logo o facão.
Jadiel (primeiro plano).
Ato 03
O Ajeita é uma figura a parte, traz o leite logo cedo, entra de supetão com seu vozeirão grave de locutor de FM, fala quase gritando, não toma chegada esteja quem estiver, esperto sabendo que tem visitas dos filhos, exclama: - mamãe taqui o leite, se dirigindo a Matriarca, e logo emenda, - cadê os meninos? D. Luisa responde, - estão dormindo, eles chegaram tarde da rua. Continua ele, - ah! Eu acordo cedo, hoje já plantei feijão, lavei minhas louças tirei o leite. Para reforçar sua gratidão, narra: “um dia me candidatei a vereador, fui pedir votos para minha família, meus sobrinhos não me aprovaram, então a minha família é esta que me apóia”, se referindo D. Luísa, a mãe de conveniência. “O Jadiel seu filho, me filiou no partido dele e disse, tu vais ser candidato a vereador”. E tasca mais uma, agora em referência a situação política do país: “agora estamos governados pela ditadura, nessa crise vai dar é muita mulher cantando a gente, por isso que gosto do Pau Ferrado, venho aqui e volto logo, as meninas chegam lá disfarçando pedindo goiaba e a gente que não é besta aproveita”.

Na cozinha: D. Luiza e as filhas, Bastira de costas e Denize ao fundo.
Ato 04
Voltemos a hause da história, D. Luisa satisfeita com a presença das suas duas filhas Denize e  Bartira,  esta última por ter nome incomum não morre de amores por ele, já até teve vontade de trocá-lo. Então as irmãs são arrastadas para a cozinha. Formado o trio Luísa, Denize e Bartira, elas se entendem, no final a comida sai redonda, mas sem antes deixar de lado um tanto de perrengue, uma diz, “mamãe se sente”, ela faz que não ouve. Aí D. Luísa fala, “esta panela tá seca põe água, vê se tá boa de sal”? Ela mesma pega a colher grande dá uma mexida, pinga na mão, dá uma lambida, degusta não fala nada, mas pelos gestos aprova o sabor produzido a seis mãos.

Ato 05
Deixei-as um pouco fui para a sala, frente à televisão, celular na mão, nu da cintura para cima, pés descansando noutra cadeira, tentando minorar os efeitos de uma picada do aedes egypti que transmite o vírus da (chikungunya, dengue, febre amarela e zika), no meu caso acho que é a primeira são seis meses para sarar. Assim me restou observar o movimento da casa. Não sei se vão gostar do que digo. D. Luísa senta ao lado com o jornal "O Estado do Maranhão" na frente dos olhos, que logo abandona, começa a explodir foguetes dos festejos da Rua Santa Madalena, D. Luísa assunta e exclama: "começou o tiroteio" se levanta em seguida, entra no quarto e retorna para cozinha. Retoma o comando das panelas, aponta para uma delas, Bartira tira este arroz daqui bota para ali, qual? Pergunta a filha, que logo atende a ordem. D. Luiza não perde o prumo, trabalha de olho no relógio, interroga ela, já são onze horas? Ninguém responde, a lida prossegue, vê-se que está preocupada. Nada pode falhar, o almoço deve sair na hora. Afinal o Júlio César, como ela gosta de chamá-lo não pode reclamar.
 Fazenda Pau Ferrado (recreio).
Ato 06
D. Luísa tem seus macetes, é dura com os que lhe cobrem no cotidiano, racional e prática ao extremo, sua franqueza beira ao irracional, se duvidar até deputado leva corretivo, mas é em torno dela que a roda gira, pelo menos na sua casa, seu espaço de trabalho não é um escritório chique, tampouco um balcão comercial. O que ela gosta mesmo e da cozinha, por isso, este local está sempre cheio de gente, é lá que recebe os filhos e sua vasta clientela, os pedintes, os que lhe inteiram dos fatos da cidade. Os negócios são fechados ali, principalmente a fazenda Pau Ferrado de onde é administrada. Boa cabeça, não anota nada, não vai pessoalmente ao comércio local fazer compras, mas o que dizer de seus auxiliares afinam as canelas do vai e vem, mesmo assim ela sabe de todos os preços dos insumos que utiliza, ainda indica o fornecedor mais em conta, negocia um desconto como ninguém, é uma verdadeira empreendedora já foi dona de hotel. Não sei como vai se virar na nova casa, recém construída pelos filhos, em que, seu ambiente de trabalho, a cozinha foi fisicamente reduzida de tamanho, local sagrado para ela.
Anagilson em primeiro plano.

Wagner e sua esposa Alessandra.
Ato 07
Labuta da manhã encerrada, a visitação reflui, tirante o Zeca Perneta ou bigode de arame, que realiza algumas tarefas da casa, a tempo se despediu. Dá uma hora da tarde, eis que surge o Zim França, batizado Anagilson, mas prefere o primeiro em homenagem ao seu amigo “chegado”, o Dr. Wagner França, outro integrante da prole de D. Luísa, exigente nos preparos culinários, sal, é o seu tempero preferido. Ao contrário do Ajeita, o falso França chega de mansinho, fala com o recepcionista da casa o Zé Meu, neto do Sousão que virou filho postiço de D. Luisa, que nada responde, senão um gesto com a cabeça ou um leve esboço de riso. Zim passa pela sala se tem alguém cumprimenta, avança rumo à cozinha. - D. Luísa cadê o doce? - Tem não! Senta aí. Daí a pouco ela vem: – toma! Rapaz tu gostas muito de doce. - Ah! Porque seu doce é muito bom. Retruca-a novamente. - Porque então não pede para tua mulher preparar? Doce é fácil de fazer. Esse doce da D. Luísa é mesmo um sucesso, conta a Doceira toda feliz, “recentemente chegou aqui o Simplício[1], Secretário do Flávio Dino: ei D. Luísa vim atrás do seu doce, aí eu disse: só do doce? Não da Senhora também”. Descomposto, corrigiu ele.

Santo Antonio dos Lopes (MA), 28 de maio de 2016.
Crônica.
Por Reginaldo Veríssimo



[1] Trata-se do ex-deputado federal Simplício Araújo, atual Secretário de Estado da Indústria do Maranhão, do Governo Flávio Dino, que em visita ao Povoado Nova Demanda que ajudou a criar, acompanhou Jadiel França e se avistou com D. Luísa.
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