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terça-feira, 17 de outubro de 2017

A saga dos Ferraz e a melhor cachaça do Maranhão

Casa sede do engenho Ferraz. Fotos: Reginaldo Veríssimo
O alambique Paulino Ferraz localizado no povoado Olho D'água do Tolentino, no município de Santo Antonio dos Lopes, em atividade desde o início da década de 1930 do século passado, fabrica artesanalmente uma das melhores pingas do Maranhão, a produção de cachaça dos Ferraz já está na terceira geração, caminhando para a quarta.

O negócio teve início com o senhor Joaquim do Sítio, originário de Picos no Estado do Piauí, que por volta de 1930 se estabeleceu numa pequena gleba de terras denominada Quinta do Deó, adquirida do proprietário de mesmo nome que também cultivava cana de açúcar para fabricação de aguardente. 
Paulino Ferraz com a mão na massa. 
Joaquim, o pioneiro dos Ferraz, repassou todos os conhecimentos acumulados ao longo dos anos na produção do destilado aos filhos, que por sua vez multiplicaram para os demais descendentes. No início o engenho era movido a tração animal, puxado por bois criados ali mesmo, mais tarde a motor de explosão, hoje é uma máquina movida a energia elétrica, ofertando maior produtividade ao empreendimento. 
Máquinas (motor e moendas). 
Vale lembrar que o primeiro motor dos Ferraz, era alimentado a óleo diesel, foi comprado no início dos anos de 1970, pelo senhor Paulino Ferraz de Sousa ou só Paulino Ferraz, de segunda mão, com mais de 30 anos de uso, em Pedreiras, do herdeiro de um antigo produtor rural, adquirido diretamente  da Escócia. A velha máquina é uma relíquia da família.
  Paulino pai com os filhos, Paulino Filho, Flávio e os amigos Jadiel e Nonato DJ.
O seu Paulino Ferraz é um típico sujeito feliz, alegre que gosta de gente, vive rodeado dos filhos, netos e amigos, conta piadas como ninguém, como também gosta de ouví-las. Conta ele que certa vez viajando numa excursão para Sucupira do Norte, aqui mesmo no Maranhão, acompanhado de amigos como Jadiel França, Nonato Alves, o DJ, este último contador de Piadas.

Sucede que Sucupira, o destino final da caravana, fica a alguns quilômetros depois da entrada para a cidade de Jatobá. Nonato, então, se assenhorou de navegador, não podia ver uma entrada ou uma bifurcação da estrada, que se punha a dizer é a entrada do Jatobá, passaram-se todas as entradas, e nada dele identificar a entrada de Jatobá, daí em diante falar em Jatobá ali era uma graça, puxada invariavelmente por seu Paulino, que até hoje dar gargalhas quando lembrado desse episódio.

Voltemos então a história dos Ferraz envoltos com a melhor pinga da região, tocada hoje em parte pelos netos do fundador, vez que seu Paulino com 68 anos de idade, completados no último dia  22 de junho, é duro que só as moendas do velho engenho, administra o alambique em parceria com os filhos: Flávio, Paulino Filho e Francisco Ferraz ou Bida, o cambiteiro do engenho, esse sabe tudo de cambito, cambita lenha, cambita cana, cambita até quem tiver por perto, função por demais importante porque se o Bida nâo cambitar não haverá garapa para alambicar. 

Com critério, paladar refinados, o velho e os novos Ferraz: Flávio, o mecânico, químico nas palavras de Nonato DJ e Paulino Filho fazem daquelas terras, da antiga Quinta do Deó passadas nas moendas, dornas, coxos, serpentinas dos alambiques em brasa e muito suor, uma das cachaças mais apreciadas de todo médio Mearim, quiçá do Maranhão, com uma produção atual estimada em torno de 18 mil litros ano.

Paulino, o pai, faz questão de se ombrear com os mais novos da família na lida, apesar da idade é um gigante, executa todas as tarefas com a maior energia. Rapadura, mel e batida são outros produtos do engenho dos Ferraz, produzidos mais para  subsistência uma ou duas vezes por ano. Essa tarefa é encabeçada e dirigida exclusivamente por ele, por ser trabalhosa e pouco rentável, os filhos não se interessam muito por essa atividade. Esse é o nosso testemunho, um naco da saga dos Ferraz no Maranhão.

Por Reinaldo Veríssimo 
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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O cadáver do Reitor explica o sentido da Operação Ouvidos Moucos, por Armando Coelho Neto

Com perplexidade, li a sinistra nota da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), em conjunto com a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Associação dos Juízes Federais de Santa Catarina (AJUFESC).  Nela, registram que, ao mesmo tempo em que lamentam a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier e se solidarizam com a família “nesse momento de dor”, vêm a público repudiar afirmações de eventuais exageros na Operação Ouvidos Moucos.

​O sinistro começa por aí. Não enxergam exagero algum numa ciclo de ações que soam como represália coronelesca das brenhas. A ação em tela é só mais uma, num conjunto de outras, que não precisam ser enumeradas. Genericamente, os desastres das operações da PF, não raro com endosso do Ministério Público Federal (amparadas por ordens judiciais), de há muito têm ares grotescos. Faz tempo que até o suspeitíssimo Gilmar Mendes fala de “prisões espetacularizadas”. Sem embargo, os calendários para desenvolvimento e os vazamentos seletivos por si sós garantem a chancela de ações políticas. A rigor, traduzem a explicita partidarização, nesses tempos de ausência e negação de provas permitidas em direito. Revelam o espírito do golpe e do “Direito Penal do Lula”.

Desse modo, soa grotesco tentar minimizar exageros, sobretudo quando, em que pese o preenchimento de alguns requisitos legais, trazem a marca do voluntarismo subjetivista. Um subjetivismo moralista que se contrapõe à subjetividade da dor alheia espezinhada. O “respeito” que a nota registra em relação à família não foi o mesmo quando a fúria punitiva humilhou publicamente um homem com história, currículo e DNA democrático. Um reitor de universidade foi tratado como rábula, mas, para os oficiantes do moralismo de plantão, isso não é dor. Como dito no texto da semana passada, são ações executadas por pessoas para quem dor é o dedo preso numa porta. Desse modo, a dor em relação à família, em detrimento da dor do então vivo, soa como mera retórica corporativista, de quem está “acima do bem e do mal”.

Não há perdão, já o disse e repito: a Polícia Federal entrou para a história dos golpes, e, o Ministério Público, que deveria ser o fiscal da lei, tem feito leituras de rasas e de conveniências da lei. Basta comparar a postura da Procuradoria Geral da República em relação ao grampo da legítima presidenta Dilma Rousseff (Fora Temer!). O que dizer do endosso ao impedimento de nomeação do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva para ministro da Casa Civil (Dilma)? O que dizer de caso similar sobre a nomeação de Moreira Franco, cuja secretaria foi transformada do dia para a noite em ministério, em pleno curso de denúncias e investigações? Onde estava o fiscal da lei quando um procurador “designado” pelo panfleto político conhecido por Veja queria se antecipar a Sérgio Moro para prender Lula? Onde estava a tal Ajufe quando Sérgio Moro inventou o “convite coercitivo” para Lula?

Quem matou o reitor foi quem concorreu para a degradação pública de sua história. A vítima não teve direito à subjetividade da amargura, nem à dor com a qual não conseguiu viver. A imprensa jogou sal na subjetividade de uma ferida idiossincrásica. Coisas do limite humano! E agora, cumpre perguntar: quem promoveu a degradação pública de pessoas, destruiu biografias - inspirado numa série de outras similares? Que juiz para proferir uma sentença, ora assume papel de acusador, ora de palestrante formador de opinião pública? Ora assume o papel de vítima, para tentar explicar porque ignora essa ou aquela prova ou falta dessas? Quem tentou prender o acompanhante de uma pessoa com câncer dentro de um hospital? Quem foi prender e quem deu manifestação favorável? Quem foi que, repentinamente, converteu essa mesma prisão de natureza necessária para desnecessária? Quem foi que se escudou num “eu não sabia”, quando Lula (por dedução) “sabia de tudo”?

É preciso contextualizar o suicídio do reitor. O “golpíchment”, viciado na origem, seguiu os trâmites da “maconha intrujada”. Hoje, são fartas as notícias de votos comprados. Viciado “ab ovo”, o estupro à democracia se deu com omissão da suporta “Alta Corte”. Não vi notas de delegados, procuradores e juízes defendendo a moralidade, estado de direito, democracia. Desse modo, soam torpes os argumentos da nota, numa democracia destroçada.  As instituições públicas têm como aliadas uma imprensa corrupta, que se encarrega de preparar o espírito dos leigos para aceitar como normal as ilegalidades  e o autoritarismo em curso, maquiados de pretensa legalidade.
A carta assinada pelos tais operadores do direito traz a marca do “quem usa cuida”. Já que suas ações são politizadas, só lhes resta a insólita conclusão de que debater excessos é politizar a tragédia. Vejam o que dizem: “Ao contrário do que vem sendo afirmado por quem quer se aproveitar de uma tragédia para fins políticos, no Brasil os critérios usados para uma prisão processual, ou sua revogação, são controlados, restritos e rígidos. Uma tragédia pessoal não deveria ser utilizada para manipular a opinião pública, razão pela qual as autoridades públicas em questão, em respeito ao investigado e a sua família, recusam-se a participar de um debate nessas condições”. Como assim?

Haja peroração! “Os integrantes das respectivas carreiras, não apenas na referida operação, como também no exercício de suas demais atribuições funcionais, norteiam-se pelos princípios da impessoalidade e da transparência, atuando de forma técnica e com base na lei”.

É de se perguntar: qual a impessoalidade em ações dirigidas para o Partido dos Trabalhadores, previamente anunciadas para a imprensa? Qual a impessoalidade de um delegado federal que fez campanha para o candidato Aécio? Que dizer de Sérgio Moro em fotos ao lado de João Dória, Aécio Neves, Gedel Vieira, Michel Temer, Geraldo Alckmin? Qual a imparcialidade dos oficiantes da Farsa Jato nesse contexto político?
Ah, tá. “Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão”. Qual a importância de uma tragédia pessoal diante de vossa impunidade e de vosso corporativismo? Sim, sei, “timing é tudo”. A solidariedade às vítimas é condenável, é coisa de "aproveitadores". Só a defesa dos algozes é moral. Como donos da verdade, não toleram contestação. A julgar pela postura, são seres infalíveis, acima do bem e do mal. “Probleminhas em operações acontecem. Fazer o quê”?

Um homem público movido pelo sentimento do injusto se mata e os representantes daqueles que, técnica e genericamente, contribuíram para sua morte, se recusam ao debate. E o mais grotesco: não o fazem "em respeito à família" do falecido reitor.

Pasmem! Não querem a opinião da sociedade em tragédias decorrentes de seus atos - da quebra de empresas à destruição de biografias. Se não querem debater, não querem ouvir ninguém, o silêncio sobre o cadáver do reitor explica bem o significado do nome “Operação Ouvidos Moucos”.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

GGN
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domingo, 8 de outubro de 2017

Doria, a samambaia que se tornou presidenciável, por Luis Nassif

Há uma busca do candidato de um centro democrático, seja lá o que se entenda por isso.

Teoricamente, seria uma área de convivência entre liberais e sociais-democratas, que visasse preservar o país da radicalização que se anuncia e, especialmente, de um maluco de ultradireita.

O posto de candidato do centro democrático está vago.

São curiosos, aliás, os movimentos oportunistas que se formam em tempos de desconserto geral. Qualquer um se julga com oportunidade, do economista liberal aos velhos nacionalistas, passando por antigas apresentadoras de TV, apresentadores atuais. Teve 15 minutos de fama? Já pode se candidatar a presidenciável. Nem a Loto desperta tantas fantasias.

A prova dos 9 se dá quando se colocam à campo. E, aí, é ilustrativa a experiência João Doria Júnior.

Dória é um outsider que se tornou prefeito por várias razões, nenhuma ligada ao seu mérito próprio.

A primeira, ao fato do governador Geraldo Alckmin não ter um substituto à altura. Assim como outros coronéis do PSDB, Alckmin não aceita um Exército com oficiais, só sargentos que não possam questionar seu comando. Na hora das batalhas secundárias, não há oficiais disponíveis e, aí, toca a apostar em outsiders. O último político paulista desprendido foi Franco Montoro, que acabou devorado por Orestes Quércia.

A segunda, o antipetismo dos paulistas, que daria a vitória para qualquer poste. Pularam de um poste a outro até se fixar na samambaia Dória, aquela que vai se enroscando em todos os pontos, até ganhar raízes próprias e sufocar o criador.

Os figurinos de Dória
Os mais velhos devem se lembrar de um quadro hilário do humorista Serginho Leite em que ele imitava, ao mesmo tempo, Agnaldo Rayol e Agnaldo Timóteo. Para tanto, pintava metade da cara de preto e a outra de branco e ficava com o perfil correspondente a cada Agnaldo, quando soltava a imitação.

Lembra Dória hoje.

Havia dois figurinos para o antipetismo. O mais legítimo era o da figura do gestor, divorciado da velha política, atuando cientificamente. O segundo, a do caçador de petistas, raivoso, iracundo, hidrófobo. Ambos, como antíteses do político tradicional, aquele que não se rende às facilidades das alianças ilegítimas, ao pragmatismo malandro da realpolitik.

Grandes políticos, Brizola, Covas ou Maluf, cada qual no seu campo, seguiam um conjunto de valores quase imutáveis, porque a incoerência e/ou a deslealdade, quando percebidas pelo eleitor, são veneno na veia da imagem do político. O marketing, para eles, era apenas uma maneira de projetar sua personalidade pública.

No caso de Dória, não.  Ele é um androide, totalmente desenhado pelo marketing, não o marketing planejado, mas o do improviso.

O primeiro engano foi o ataque de prepotência que acomete todo espírito vaidoso, quando assume um cargo não previsto e se deslumbra. Acaba acreditando que todo mérito é seu. Lembro-me até hoje da ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, me telefonando – a respeito de críticas que fiz ao seu açodamento, quando Ministra do Planejamento de Itamar – e dizendo: que culpa eu tenho de ser alta, bonita e inteligente?

Dória pegou vento a favor e passou a achar que ele conduzia o vento. Depois, assumiu e, no período de carência – que todo político eleito tem – praticou duas ou três jogadas de marketing que foram bem recebidas, justamente porque se estava no período de carência. Aí, passou a se considerar dono de uma intuição fulminante. Todos seus passos seguintes não obedeceram a nenhum planejamento. Qualquer problema poderia ser resolvido com uma desculpa criativa e um factoide qualquer.

Como alertamos várias vezes, trata-se de uma estratégia suicida. A facilidade atual em disseminar imagens exige um cuidado adicional com a superexposição. Doria passou a se comportar com mais assanhamento de uma adolescente vidrada em selfies.

E aí, apareceu o lado mais sombrio de sua personalidade: a grosseria, o oportunismo, a deslealdade, a ambição explícita. Mas, principalmente, o perfil contraditório, do sujeito que muda de opinião ao sabor das circunstâncias.

Semanas atrás, escrevi um artigo sobre a imagem tortuosa que Dória estava criando de si mesmo, do sujeito rancoroso, agressivo, desleal, de índole ruim. Dias depois, em encontro com artistas e jornalistas em sua casa, em um trecho gravado pelo Estadão, ele como que respondeu ao artigo, dizendo da impressão falsa que estava construindo sobre ele, que no fundo era um bom rapaz, coração bom, generoso etc.

Mas não adianta.

A biruta de aeroporto
Agora está em plena procela e o barco não obedece mais ao comando do piloto.

Dória precisa consolidar alianças políticas pelo país e não para de viajar. Aí, saem duas pesquisas mostrando queda na aprovação do gestor. Ele volta correndo e cria mais dois factoides. Mas, aí, percebe que Alckmin pode estar se fortalecendo em outras regiões e sai correndo atrás do prejuízo.

Nesse ínterim, sofre uma crítica de Alberto Goldman, e responde com uma agressividade sem limites, tratando Goldman como um fracassado porque velho e aposentado. Nesses tempos de insegurança generalizada com o desemprego, imagine-se como tal afirmação irá cair para os eleitores.

Nessa ânsia de agarrar todas as oportunidades, vai se ampliando a falta de coerência do seu discurso.

Confiram suas entrevistas dos últimos dias. É uma biruta de aeroporto. Diz que respeita Bolsonaro, mas seus métodos de gestão são diferentes. Que mané gestão? Entra em divididas, das quais deveria se poupar – como a questão da censura à exposição de arte – e, no momento seguinte, tem que se explicar para o público mais esclarecido. Depois, faz campanha contra a corrupção e, ao mesmo tempo, apoia Temer. Dá declarações sobre a importância de acordos políticos, para ganhar tempo de TV e, depois, faz um malabarismo incompreensível para explicar como joga de acordo com as regras do jogo da velha política, e pretende se apresentar como o novo na política.

Alckmin não é sabido, mas é esperto. Conhece suas próprias carências e se poupou ao máximo. Dória tem a imprudência dos megalômanos. E, com isso, deixou o centro democrático à procura do seu sir Galahad.

GGN
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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Falece em Buriti de Inácia Vaz Dona Zita a matriarca da família Ventura aos 101 anos e 6 meses

Dona  Zita, nome de batismo Alzira Vieira dos Santos, Faleceu ontem por volta das 23:00 horas, de morte natural, no Povoada Areal, Buriti de Inácia Vaz - MA, na casa de sua filha Teresinha e de seu genro Raimundinho, onde está sendo velada e o sepultamento será às 16:00 horas no cemitério da cidade. Dona Zita a mais longeva ascendente dos Ventura, assim dito, por ser viúva de José Cardoso da Silva, conhecido carinhosamente por todos como  Zeca Ventura, nome herdado de seu pai.

Foram mais de 100 anos de luta desta guerreira a Dona Zita ou Alzira Vieira dos Santos, como ela gostava de ser chamada. Agora com a sua partida fica as lembranças de alguns momentos felizes ao lado dos seus. Em um desses momentos ouviamos ela dizer que tinha parentesco com índio, pois alguém dela tinha sido pego a dente de cachorro e descendia de caboclo da Serra da Meruoca para mostrar que era uma mulher autêntica.

Hoje é um dia muito triste para nós por causa da sua morte, mas deve prevalecer a nossa especial homenagem a Dona Zita, uma mulher verdadeira, exímia contadora de histórias, uma avó divertida, bem-humorada e que sempre fez questão de dar atenção aos seus netos. Até seu vestir era alegre, gostava de roupas bem coloridas, as flores eram suas preferidas, sempre dava um jeito de ter algumas no seu jardim para alegrar o coração das pessoas que lhe visitavam.

Para a mãe Zita não tinha tempo ruim, fazia o bem a quem quer que fosse, rezava de quebranto, mal-olhado, erisipela, carne quebrada, osso desconjuntado/rendido, engasgo, arcas e espinhela caídas. Engraçado na reza das arcas ela dizia: __chovê aqui meu filho vou medir primeiro, e media. __Vixe Maria, mas tá caída de mais, passa de 4 dedos, daí fazia a reza, media de novo e mostrava, __olha como já melhorou dois dedos, vá e não esqueça de voltar.

Ah Dona Zita! Você era muito engraçada, divertida, nunca botava cara feia para ninguém, sempre querendo agradar a todos, os netos então, dava o que tinha e o que não tinha para vê-los felizes. A casa dela era como coração de mãe sempre cabia mais um sem expressar incômodos, era mesmo uma satisfação acolher as pessoas, até tinha um dizer que falava em São Valentim, mas não me recordo agora.

Quando mais jovem não faltava uma missa, para ela eram sagradas, também gostava de passear conversar com as pessoas, quando encontrava um neto, um filho ou mesmo um conhecido era uma festa, abraçava, dizia uma graça e sorria, dançava. Se um desses se apresentasse mais atrevido, curioso e perguntasse o que portava na sacola, se saía com suas tiradas desconcertantes: __ é castanhita, e dava uma risada, o perguntador, frustrado se continha.  E quando lhe tiravam do sério, rodava a baiana, e logo gritava: __eu sou Santa Rita atrás de mim ninguém grita.

A nossa avó, que Deus a tenha em um bom lugar, brincava de roda com as filhas, depois com as netas, cantava, ensaiava até uma dança mesmo sem ser dançarina, uma graça. Na culinária, gostava de fazer buxada, cuxá e outros quitutes. Teve tempo que fazia queijo, disto não me lembro, mas nos disseram. Um tanto inquieta fazia de tudo, sabão então era com ela mesma. Uma artesã de primeira, a partir da palha de carnaúba bruta, das suas mãos saiam belos sombreiros ou os velhos e bons chapéus de palhas para o conforto das cabeças dos trabalhadores, invariavelmente amigos.  

Ficamos por aqui com a nossa dor da partida, mas convictos de que nossa avó Zita cumpriu com sua missão na terra, Mulher lutadora, autêntica, trabalhadora, guerreira, sofreu, brincou se divertiu e foi feliz. Agora sai da vida para entrar na história cotidiana das pessoas comuns, que para nós os seus familiares sempre será uma pessoa especial, o nosso Adeus Dona Zita. O nosso abraço a todos os tios, primos e os demais amigos e parentes.

Reginaldo Veríssimo
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